A Introdução do texto científico é fundamental para o entendimento da monografia, dissertação, tese e artigo científico. Nela, o pesquisador apresenta o estudo, esclarece e delimita o Tema, situa e informa o leitor em relação ao desenvolvimento da Ideia central ou do Problema central.
Entretanto, alguns trabalhos da área da saúde "parecem" abdicar da Introdução. Não se trata de privilégio dos trabalhos denominados tese no formato de artigo nem é particularidade da redação médica, muito menos das teses defendidas nas melhores universidades de saúde do Brasil.
Os diversos departamentos exigem trabalhos diferentes tanto na forma quanto no conteúdo. Porém, alguns insistem que a Introdução é apenas um rótulo. Outros retrucam e querem forçar a aceitação sob o argumento simplista de que “é assim mesmo!” Não! Não é assim mesmo. Introdução de tese no formato de artigo não contém apenas Justificativa do estudo, tampouco somente Revisão da literatura, ainda que a tese no formato de artigo não tenha divisão de capítulo entre Introdução e Revisão da literatura.
O pesquisador que redige estudo científico sem apresentar a Introdução:
a) Não o posiciona no contexto geral;
b) Não o insere no universo científico;
c) Talvez tenha se perdido nas etapas iniciais e no desenvolvimento;
d) Ainda que não tenha tido dificuldade de encontrar artigos científicos que sustentem o estudo, parece demonstrar que não sabe reconhecer os diferentes Temas de pesquisa nem relacioná-los ao Problema central estudado;
e) Pode ter comprometido os Resultados, porque não encontrou estudos fundamentais e, portanto, pode ter "repisado" o que está bem fundamentado na literatura científica, apesar de a princípio o Método parecer impecável. Saber utilizar os descritores e transitar pelas bases de dados não soluciona o dilema;
f) Limita a difusão do conhecimento científico;
g) Quem sabe não entendeu o próprio trabalho, porque não o apresentou.
Depois, como é muito comum, para tentar “dar um jeito” no Método, os dados são enviados por e-mail para um estatístico. Muitas vezes, nem Karl Pearson resolveria a situação. Se o Método tem defeitos, é provável que houve falhas no planejamento, se é que houve planejamento. Daí que o pesquisador não terá Resultados fidedignos nem Discussão crível.
Quando se diz que “é assim mesmo” ou “é assim que eles fazem”, reforça-se a ideia de “ciências Modas, como em arte, em literatura ou em vestuário; os pesquisadores não gostam muito de insistir na contingência irracional e na obediência que a noção de moda manifesta, mas as bibliografias aí estão para denunciar este fator”(1).
Se o título do capítulo anunciar a Introdução, mas o texto remeter à Revisão da literatura, sem tratar da Introdução, pratica-se o mesmo afastamento que cometi quando usei o título “Fernando Sabino e Paulo Coelho”. Contudo, o meu afastamento, que na teoria literária recebe o nome de estranhamento, foi proposital. No caso da Introdução de texto científico, que não é, mas parece Introdução, por ironia, lembra a literatura fantástica de Franz Kafka, ou seja, aquilo que parece ser.
Sobre Fernando Sabino e Paulo Coelho, o que tenho a dizer é simples: a Márcia, que talvez continue atuando no Instituto Rio Branco, era a única amiga a se opor ao questionamento do valor literário da obra de Fernando Sabino. Ela indignava-se com os comentários dos colegas sobre Sabino. Para eles, tratava-se de “literatura menor” e destinada ao público com poucos anos de leitura. Referiam-se ainda a leitura de bobagens que enganam leitores. Acho que a querida Márcia não se enfureceu de vez contra todos, porque nenhum dos membros do grupo pediu a leitura de um Paulo Coelho.
1. Moles, Abraham Antoine. A criação científica. Tradução por Gita k. Guinsburg. São Paulo: Perspectiva, 1981. Tradução de La création scientifique, p.242.
Pedro Reiz
Observação: a tese no formato tradicional não se opõe a tese
no formato de artigo. Quem pensa assim precisa ler informações mais seguras e
fidedignas, pois estamos vivendo um momento de junk food científico. Ou seja, não se pode alimentar pensamentos equivocados de que “se gasta
tempo valioso na redação da tese no formato tradicional”, porque o pesquisador
digno deste nome e que se debruça de corpo e alma, alma e corpo sobre a sua
tese, seja ela no formato tradicional ou no formato de artigo, adquire tantos
conhecimentos, amadurece e toma consciência de tantos aspectos, que jamais pode
conjecturar que perdeu tempo desenvolvendo todas as etapas da sua tese,
independente do formato.